Matemática em cartaz - Episódio I: O Teatro como estratégia pedagógica!

Por Ednilson Rotini

Na perspectiva de apresentar estratégias que possam auxiliar os professores no processo de ensino-aprendizagem destaca-se, neste momento, o Teatro Pedagógico. Também denominado de Teatro Educativo ou de Teatro/Educação, este recurso, segundo Araújo (2004), era utilizado desde a época colonial pelos jesuítas no exercício escolar, com resultados satisfatórios.

Teatro Jesuíta: Fonte:  Fyaes.
O ensino do teatro no sistema educacional brasileiro foi formalmente implantado há cerca de quarenta anos por meio da Lei 5692/71, nos conteúdos abrangidos pela disciplina de Educação Artística, conforme comenta Japiassu (1998). Porém, o ensino de teatro está presente desde o século XVI, implantado pela pedagogia jesuítica mas, somente a partir da década de 1970 é que se desenvolveram pesquisas e investigações a respeito das inter-relações entre teatro e educação.

O Teatro Pedagógico consiste em levar para as instituições que trabalhem com educação formal e/ou informal as técnicas do teatro e aplicá-las na comunicação do conhecimento. Na escola, onde os estudantes podem ser os espectadores ou os figurantes, o teatro pode ajudar no entendimento de conteúdos escolares e, por meio de um estímulo emocional, facilitar a reflexão a respeito de variados conteúdos e conhecimentos científicos.

Para Diniz (1995), o Teatro/Educação propõe-se a atingir as necessidades do educando numa integração entre conhecimento adquirido e experiência vivida. Assim, o Teatro/Educação apresenta-se numa proposta de teatro espontâneo, envolvendo o grupo e vivenciado numa atmosfera de liberdade.

Segundo Cartaxo (2001), o imaginário é um importante elemento que deve estar permear o ambiente escolar e, sendo assim, o teatro é um ótimo exemplo de como esse imaginário pode estar presente e vivo no ato de educar. Afirma ainda, que é comum encontrar professores que utilizam o teatro como estratégia pedagógica objetivando facilitar o processo de ensino-aprendizagem.

Fonte: SEMED de Manaus.
O teatro como estratégia pedagógica pode auxiliar a reflexão e o pensamento, pois estimula o raciocínio contextualizando o que está sendo encenado (CARTAXO, 2001). Além disso, Araújo (2004) afirma que o Teatro desenvolve a oralidade, os gestos, a linguagem musical e linguagem corporal. Desta maneira, “o processo de aprendizagem de um conteúdo, por meio de uma encenação teatral, é acelerado porque o aluno trabalha com todos os seus sentidos, inclusive tendo a oportunidade e liberdade para pensar, criar e vivenciar” (CARTAXO, 2001, p. 65).

Zanin (2002) complementa que não apenas o teatro, mas a Arte em geral, pode contribuir para o desenvolvimento da criança. Isso porque a aprendizagem se inicia na interação da criança com o seu meio. Essa interação é justificada pela teoria sócio-interacionista de Vygotsky, onde afirma que “o aprendizado desperta vários processos internos de desenvolvimento, que são capazes de operar somente quando a criança interage com pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com seus companheiros.” (VYGOTSKY, 1991a, p.101).

Fonte: Revista Escola.
A partir do primeiro contato dos sentidos da criança com o ambiente, a Arte se inicia e a criança reage então a essas experiências sensoriais. Além disso, por meio da vivência de papéis que o teatro em particular pode oferecer, a criança pode representar papéis do mundo adulto que mais tarde irá desempenhar, ajudando desta forma a um crescimento pessoal (DINIZ, 1995).

O teatro apresenta também uma característica muito peculiar: consegue reunir emoção e razão. Assim, ao mesmo tempo em que emociona pode também ensinar. Neste sentido, Cartaxo (2001) mais uma vez contribui afirmando que o teatro tem a capacidade de abrir horizontes reflexivos, de dar alegria e tristeza, de desinibir o tímido e dinamizar o apático. Desse modo, ele afirma que o teatro é forte, pois explica o mundo que está em nossa volta por meio da análise, da crítica e do divertimento.

Fonte: Ciência Hoje.

E o divertimento? Será que é possível aprender se divertindo? Bertold Brecht, importante estudioso e divulgador do Teatro Pedagógico, comenta que, segundo o consenso geral, existe uma grande diferença entre o aprendizado e a diversão. O aprendizado pode ser útil, mas somente a diversão é agradável. Ao contrário, Brecht (1967) afirma que o Teatro Pedagógico é capaz sim de provocar ao mesmo tempo contentamento e aprendizado. “A este respeito, podemos apenas dizer que a contradição entre aprender e divertir-se nada tem de necessidade natural, jamais foi isso e nada obriga a que venha ser.” (BRECHT, 1967, p. 87).

O mesmo autor afirma que se não houvesse a possibilidade de aprender divertindo-se, o teatro, por sua estrutura particular, não estaria em condições de ensinar e ressalta que o teatro permanece teatro, mesmo quando é Teatro Pedagógico, e ao passo que é bom teatro, é diversão.

Em outra análise, observa-se que no ensino tradicional a integração social é deixada quase de lado. Basta perceber, por exemplo, que a disposição das carteiras na sala de aula, ordenadas em fileiras, não favorece uma relação social. Nesta disposição, o estudante não vê o rosto de seus colegas. Por outro lado, em outras situações escolares são apresentados variados equipamentos tecnológicos e audiovisuais sofisticados. Entretanto, mesmo estes às vezes deixam a desejar o desenvolvimento social, ou seja, a interação estudante-estudante e estudante-professor. 

Isso não favorece o processo de ensino-aprendizagem, pois, segundo Vygotsky (1991b), ele se dá por meio daqueles que aprendem e daqueles que ensinam, em uma relação dialética que se estabelece entre ambos. É neste sentido que Diniz (1995) afirma que o Teatro/Educação por meio das técnicas dramáticas aplicadas ao ensino pode favorecer a um aprendizado menos individualizado e com uma integração social.

REFERÊNCIAS:

ARAÚJO, P. O Teatro Ensina a Viver. São Paulo, SP, 2004. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/arte/pratica-pedagogica/teatro-ensina-viver-424918.shtml>. Acesso em 13 jun. 2013.

BRECHT, B. Teatro Dialético. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 1967.

CARTAXO, C. O Ensino das Artes Cênicas na Escola Fundamental e Média. João Pessoa, PB: Editora da UFPB, 2001.

DINIZ, G. J. R. Psicodrama Pedagógico e Teatro Educação. São Paulo, SP: Ícone, 1995.

JAPIASSU, R. O. V. Jogos Teatrais na Escola Pública. São Paulo, SP 1998. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-25551998000200005&Ing=pt&nrm=isso>. Acesso em 13 jun. 2013.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1991a.

VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1991b.

ZANIN, V. P. M. Arte e Educação: um encontro possível. In: Anais do VII ENAPI Unoeste. VII Encontro de Pesquisa e Iniciação Científica. Universidade do Oeste Paulista. Presidente Prudente/SP, 2002. Disponível em <http://www.arteducacao.pro.br/Artigos/arte_e_educacao.htm>. Acesso em 13 jun. 2013.

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