Matemática em cartaz - Episódio II: O Teatro Pedagógico e o Ensino de Matemática!

Por Ednilson Rotini

Dando continuidade às reflexões publicadas no texto anterior a respeito do teatro na educação, analisaremos a relação entre a Arte e a Matemática ou, mais especificamente, entre o Teatro Pedagógico e o ensino de Matemática. Nesse momento é importante a seguinte indagação: seria possível alguma aproximação? Segundo Diniz (1995), a aproximação entre as áreas do conhecimento e o rompimento de esquemas pré-concebidos que as mantinham separadas é um fenômeno muito interessante. A unificação das ciências permite que os seres humanos aumentem seus conhecimentos e melhorem a compreensão de suas dificuldades. A autora vai além quando ressalta que, em se tratando de conteúdos curriculares, o aprendizado pode ser efetivamente auxiliado pelo teatro.

Brecht (1967) contribui relatando que ouvia que a arte e a ciência são dois patrimônios valiosos, porém pertencentes a domínios completamente diversos da atividade humana. Contudo, ele confessa: por pior que isso possa parecer (para ele), sem utilizar algumas ciências, não teria a menor possibilidade de cumprir sua missão como artista. 

João Batista Nascimento, professor e pesquisador de Matemática Pura e Metodologias de Ensino Matemático da Universidade Federal do Pará (UFPA) afirma que, utilizando os recursos da linguagem teatral - os quais possuem alto poder de entendimento de conceitos e grande teor lúdico, pode-se atrair o interesse e a curiosidade dos estudantes, criando também, um ambiente favorável à aprendizagem e superando aquele receio comum que as operações matemáticas costumam apresentar nas histórias escolares (LEITÃO, 2004).

O referido professor é o criador do projeto “Matemática & Teatro – da construção lúdica à formalização”, onde é desenvolvida uma peça intitulada “De Ponto em Ponto Formamos...”, que possui atos com nomes sugestivos como Oh! Sujeito Quadrado, Triângulo Amoroso, Um Círculo Vicioso, Tem que Andar na Linha e Ponto Finalmente. Durante a encenação destes atos são trabalhados vários conceitos de geometria plana.

No trabalho do professor João Batista, a metodologia consiste em, primeiramente, identificar, pesquisar e estudar os elementos e conceitos matemáticos, bem como as possíveis relações destes com o cotidiano envolvido na peça. Num segundo momento, são realizadas sessões de leitura e construção do roteiro, das falas, diálogos e adaptações, pautadas pelas características do público-alvo, pelo rigor dos conceitos matemáticos, aprofundamento da aprendizagem e pesquisa matemática, inclusive com a possibilidade de ampliações e generalizações.

Outro trabalho de grande relevância diante de seu pioneirismo foi o realizado pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) Luiz Jean Lauand, que traduziu uma peça escrita, produzida e montada pela monja Rosvita de Gandersheim no século X, intitulada Sabedoria (Sapientia, no título original). Na cena III há uma autêntica aula de matemática medieval unindo o teatro ao ensino. Segundo o autor: 

Se há uma época onde a cultura tem forma popular é a Idade Média. Tal afirmação é válida para diversos aspectos da cultura medieval. Detenhamo-nos no caso do ensino de matemática. A queixa que sempre se ouve hoje contra o ensino de matemática elementar é de que é pesado, árido, carente de motivação etc. Bem diferente, (...) é o ensino medieval. A pouca matemática que se conhece na época é ensinada de modo vivo, prático, atraente e bem-humorado. (LAUAND, 1986, p. 95).

Destaca-se ainda, outro importante nome do ensino de Matemática, o engenheiro e professor Júlio César de Mello e Souza, o famoso Malba Tahan, que escreveu entre mais de 200 livros o célebre O Homem que Calculava. Esta obra reúne diversos contos relacionando cultura árabe e Matemática e, de um modo muito criativo, envolve histórias de aventuras com desafios matemáticos.

Segundo Ferrari (2005), as histórias que Malba Tahan escreveu ao longo de sua carreira são ótimas opções para se trabalhar o Teatro Pedagógico e ensinar Matemática. Um exemplo apresentado pelo autor é o de uma escola em São Paulo que utiliza a obra de Malba Tahan numa integração entre Língua Portuguesa, Matemática e Arte. Nessa atividade, os contos do livro O Homem Que Calculava são divididos e sorteados entre os grupos de estudantes. Inicialmente, é realizada uma pesquisa sobre quem foi o autor e, em seguida, a leitura dos capítulos com o intuito de adaptá-los para a forma teatral. O interessante é que “ao mesmo tempo que o conto se torna uma pequena peça de teatro, o desafio correspondente deve ser solucionado e representado por esquemas e desenhos em transparências que, posteriormente, são mostradas a toda classe e discutidas” (FERRARI, 2005, p. 2).

Ainda segundo o autor, a professora de Matemática da escola afirma que os estudantes vibram com a encenação teatral, que leva-os a mergulhar na leitura e na interpretação do problema, que exige um exercício de pensar e repensar até que fique bem claro. Resultados importantes são destacados pela professora, como, por exemplo: o despertar do gosto pela solução de problemas, o prazer em experimentar soluções e raciocínios inéditos e interesse em ler e redigir textos.

Para aqueles que pretendem trilhar o caminho do Teatro/Educação, Diniz (1995), apresenta, em seu livro, algumas peças teatrais como apoio. Duas delas merecem destaque, pois abordam temas matemáticos: a denominada “Filósofos Matemáticos” e a outra, “Conjuntos Matemáticos”. 

REFERÊNCIAS

BRECHT, B. Teatro Dialético. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 1967.

DINIZ, G. J. R. Psicodrama Pedagógico e Teatro Educação. São Paulo, SP: Ícone, 1995.

FERRARI, M. Teatro + Malba Tahan = Matemática Divertida. In: Revista Nova Escola, Edição 182, São Paulo/SP: Abril, 2005.

LAUAND, L. J. Educação, Teatro e Matemática Medievais. São Paulo,SP:Perspectiva, 1986.

LEITÃO, J. Teatro Favorece Aprendizagem de Matemática no Pará. Belém, PA, 2004. Disponível em: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=21324. Acesso em 16 ago. 2013.

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