Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro: uma visão sobre necessidade de transformação da educação para responder as demandas do terceiro milênio.

Por Eduardo Cordeiro Uhlmann

O psicanalista e educador Rubem Alves compara a memória a um escorredor de macarrão. No escorredor, a água que foi usada para cozinhar o macarrão é dispensada por não possuir mais utilidade e fica apenas o macarrão. Com a memória também é assim, o que aprendemos passa pelo escorredor de macarrão e a memória ”se livra do que não tem serventia por meio do esquecimento”. Para Rubem Alves, a memória retém apenas duas coisas, “primeiro, coisas que são úteis, conhecimentos-ferramentas, conhecimentos que nos ajudam a entender e a fazer coisas (…) a outra coisa que tem serventia são os prazeres.” Para o autor, o conhecimento desconexo, ensinado mecanicamente, não é retido pela memória, não passa pelo teste do escorredor de macarrão, serve para usar no vestibular, e é logo esquecido.

“A memória é uma função da vida, do corpo. E o corpo não é bobo. Aquilo que não é instrumental para a vida é logo esquecido.” (Rubem Alves)

Para a professora Silvia Helena Mousinho, da UERJ, “trabalhar visando à transdisciplinaridade é uma oportunidade ímpar de melhorar as formas de ensinar e de aprender, tornando-as muito mais prazerosas e eficientes. Quando tomamos consciência desse fato, a percepção e a sensibilidade nos conduzem à necessidade de transcender a especificidade disciplinar e enveredar por diferentes campos de conhecimento sem a identificação com apenas um deles.”

Buscando aprofundar a noção transdisciplinar da educação, a UNESCO solicitou a Edgar Morin um texto sobre as necessidades da educação do amanhã, daí surgiu o livro Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro.

Estes sete saberes — As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão; Os princípios do conhecimento pertinente; Ensinar a condição humana; Ensinar a identidade terrena; Enfrentar as incertezas; Ensinar a compreensão; e A ética do gênero humano — são aquilo que Morin considera imprescindível para uma educação apta a lidar com as complexas questões que o terceiro milênio impõe à humanidade.

Uma vez que a educação visa transmitir conhecimentos, é fundamental que estudemos o próprio conhecimento humano, “seus dispositivos, enfermidades, dificuldades, tendências ao erro e à ilusão”. O conhecimento, enquanto produto da sociedade, acompanha os caminhos e desvios da própria sociedade, é passível de erro e de ilusão. O estudo do conhecimento deve estar relacionado também com o estudo nossa capacidade cerebral e sensorial de perceber o mundo, assim como a influência da cultura. O conhecimento não pode ser visto como algo pronto que pode ser simplesmente acessado. 

Além disso, é preciso promover um conhecimento “capaz de apreender problemas globais e fundamentais para neles inserir os conhecimentos parciais e locais”, transcendendo a fragmentação causada pelas disciplinas para apreender os objetos em seu contexto.

“O ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Esta unidade complexa da natureza humana é totalmente desintegrada na educação por meio das disciplinas, tendo-se tornado impossível aprender o que significa ser humano”. É preciso reunir os conhecimentos que estão espalhados pelas disciplinas para tentar apreender a condição humana.

A identidade terrena precisa ser reconhecida, o nosso destino e o da Terra devem ser estudados. A era planetária, com início quando a comunicação foi estabelecida entre os continentes, deve ser estudada pelo o que une e também pelos processos de opressão e desigualdade que definem relações entre as diferentes partes do mundo.

A educação deve abordar as “incertezas que surgiram nas ciências físicas”, deve ensinar princípios de estratégia que permitiriam enfrentar os imprevistos, o inesperado e a incerteza “é preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas em meio a arquipélagos de certeza.”

É preciso estudar a compreensão entre os povos e estudar também as bases da incompreensão.

“A educação deve conduzir à ‘antropo-ética’ (...) todo desenvolvimento verdadeiramente humano deve compreender o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e da consciência de pertencer à espécie humana.”

REFERÊNCIAS

http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u525.shtml

http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0288.html

Morin, Edgar, 1921- Os sete saberes necessários à educação do futuro; tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya ; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. – 2. ed. – São Paulo : Cortez ; Brasília, DF : UNESCO, 2000.

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