Vem aí o cometa do século! Ou talvez não...

Por Anisio Lasievicz

Os fenômenos celestes foram motivo de espanto e fascinação para o ser humano desde épocas remotas. Eclipses, “estrelas cadentes”, astros cujo movimento contrariava a aparente ordem natural, “aparecimento de novas estrelas” e outros acontecimentos foram registrados em diversas formas por todas as civilizações conhecidas. 

Dentre esses fenômenos, certamente um dos mais encantadores é a passagem de um cometa, o qual, até meados do século XVI, era considerado como a alma de reis maldosos, sinais de mau presságio e, até mesmo, ataques de gigantes contra a Terra.

A palavra cometa deriva do grego antigo κομήτης, que significa “estrela de cabelo comprido”, em referência a cauda que apresentam. Sua origem remonta os restos da formação do Sistema Solar, que se concentram em uma região chamada Nuvem de Oort (em homenagem ao astrônomo holandês Jan Oort, que previu a existência desta estrutura e que ainda não foi observada diretamente), distante cerca de 50.000 U.A do Sol (1U.A. = 150 milhões de km). 

Concepção artística da Nuvem de Oort.

A Nuvem de Oort abriga bilhões corpos que foram expulsos para regiões mais afastadas do Sol devido às interações gravitacionais dos gigantes gasosos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno) na época da formação do Sistema Solar. Diante da elevada distância em relação ao Sol, este não têm uma ação gravitacional intensa sobre estes objetos, cuja órbita pode ser perturbada por interações gravitacionais de outras estrelas e até da Via Láctea, a qual atira alguns deles em direção ao Sol.

Os cometas são formados, majoritariamente, por água congelada e outras substâncias como amônia, rochas, gás carbônico, metano e alguns compostos orgânicos em menor proporção. Devido a esta composição são chamados de “bolas de gelo sujas” e apresentam diâmetros variados, até dezenas de quilômetros.

Tamanhos comparados.


Suas órbitas são elipses com grande excentricidade, chegando às proximidades do Sol e, posteriormente, afastando-se significativamente, sendo classificados, nesse quesito, em cometas de pequeno período (até 200 anos) e de longo período (de 200 a milhares ou milhões de anos). Alguns pesquisadores colocam o termo periódico para designar cometas que são vistos várias vezes (mesmo ao longo de milhares de ano, como o cometa Halley) e não periódicos, para os que são registrados uma única vez, devido, principalmente, ao fato de que seu período é de milhões de anos.

Estrutura de um cometa.
À medida que estes corpos aproximam-se do Sol, eles são aquecidos e os compostos mais voláteis se vaporizam, sendo ejetados do núcleo (o qual perde massa) e formando uma região chamada de coma, a qual, por sua vez, é deformada pelo vento solar, produzindo a famosa cauda ou cabeleira. Quando a luz solar incide nas partículas de poeira e cristais de gelo presentes na cauda, produz ionização e, consequentemente, a faz brilhar. Enquanto o núcleo de um cometa tem um tamanho da ordem de quilômetros, sua cauda pode atingir milhões de quilômetros!

Um dos cometas mais famosos é, sem dúvida, o cometa Halley, em homenagem ao astrônomo inglês Edmond Halley. Ao estudar 33 aparições de objetos registradas entre 1300 e 1700, concluiu que três delas trataram-se, na verdade do mesmo astro, prevendo seu retorno para 1759. Quando o cometa retornou de acordo com os cálculos, passou a ser designado de cometa Halley. 

Cometa Halley em 1986.
Halley possui cerca de 11km de diâmetro e o período de sua órbita é 76 anos (a cada 76 anos ele retorna), sendo a última ocorrida em 1986 e a próxima, prevista para 2061!

Em novembro de 2013 temos a previsão da chegada do cometa C/2012 S1 ISON, cujas características e os cálculos apontam que seu brilho será maior que o da Lua cheia! Mas, diante do exposto anteriormente, poderá ser extremamente frustrante...

Cometa ISON em agosto de 2013.

Como temos muitas variáveis envolvidas, uma série de situações podem ocorrer, tais como a fragmentação de seu núcleo devido ao aquecimento ou interações gravitacionais, desvios em sua órbita (fazendo-o inclusive, mergulhar em direção ao Sol), perda de muita massa por vaporização, entre outros. 

Órbita prevista.
Mas, se tudo ocorrer como nas previsões, este cometa será uma das grandes atrações do final do ano, podendo ser contemplado, inclusive, no Brasil, poucas horas antes do nascer do Sol. 

Vamos continuar acompanhando e, quando nos aproximarmos da data, fique atento ao Blog do Parque da Ciência para mais informações!


Saiba mais:



REFERÊNCIAS

http://www.cdcc.usp.br/cda/eventos/2013/COMETA-ISON/index.html

PICAZZIO, E (org.). O céu que nos envolve. Uma introdução à astronomia para educadores e iniciantes. Editora Odysseus, São Paulo, 2011.

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