PAÍSES BAIXOS E GRÃ-BRETANHA: A ENERGIA DO VENTO E DO CARVÃO

Por: Tiago Henrique da Luz


Figura 01: Esquema de moinho do sul da Holanda, com roda d'água interna para drenagem. 
Fonte: texva.com


O VENTO, O MAR E O TERRITÓRIO

Os Países Baixos são assim chamados devido ao fato de seu território se encontrar próximo ao nível do mar, com algumas áreas de planaltos atingindo altitudes entre 400 e 600 metros; no entanto, como o solo vinha se abaixando em torno de 2 a 3 centímetros a cada dez anos (registrados desde 1880) grande parte das terras holandesas fica abaixo do nível do mar.
Na verdade, as populações desta região travam uma luta constante contra o mar há muito mais tempo. Desde o século VII várias barragens foram construídas, visando reconquistar as costas lamacentas e mantendo as áreas férteis. A partir dos séculos XII e XIII, os habitantes que se refugiavam nas dunas e pequenas ilhas que se formaram, se dedicaram à construção de mais uma série de barragens (damnen), incluindo a foz dos rios Zaan, Amstel e Rotte, para evitar as marés; assim surgiram as cidades de Zaadam, Amsterdam e Rotterdam.
Com os diques, os trechos foram divididos em compartimentos, chamados pôlderes, para que a água escoasse para o mar por gravidade. Com a necessidade do escoamento artificial, depois do século XV, os moinhos de vento passariam a desviar a água para fora destes pôlderes, aproveitando o clima, principalmente ditado pelo oceano Atlântico, e os ventos que atravessavam os Países Baixos e a Bélgica em todas as estações, trazendo também chuvas e umidade; mais tarde seriam instaladas as bombas acionadas a vapor para este fim.
A segurança da população depende da manutenção destes engenhos, caso contrário, a tragédia de 1953 poderia se repetir: “uma grande maré, acompanhada de tempestade violenta, empurrou as ondas por cima dos diques, arrancando os taludes internos e abrindo, repentinamente, 67 brechas”. Com isso, as águas arrasaram a Zelândia e a Holanda meridional, destruindo 3750 habitações, causando a morte de 1794 pessoas e devastando 5,7% das terras cultivadas nos Países Baixos. 
O CARVÃO, A INDÚSTRIA E A CIDADE
À medida que a Era Industrial firmava suas raízes de maneira duradoura na Inglaterra, cada vez mais o ambiente de trabalho se transferia para as grandes cidades. Assim, se em 1750 só havia duas cidades britânicas com mais de 50 mil habitantes (Londres e Edimburgo), meio século mais tarde seriam oito, e em 1851, seriam 29, sendo nove delas com mais de 100 mil habitantes.
Estas cidades não tinham sistemas adequados de abastecimento de água ou esgoto e o rápido crescimento urbano, em que as populações se aglomeravam em “cortiços superlotados e lúgubres”, abria brechas para epidemias de cólera e febre tifóide provocadas pela contaminação das águas; a poluição do ar também se tornava um problema, causando doenças respiratórias.
Um oficial prussiano que esteve em Manchester em 1814, registrou sua impressão a respeito da paisagem, afirmando que era possível “observar a nuvem de vapor de carvão”, estando as casas “enegrecidas por ela” enquanto o rio que passa pela cidade se encontrava “tão cheio de detritos de corantes” que se assemelhava “à tina do tintureiro” (HOBSBAWM, 1968, p. 88-89).


Figura 02: Fotografia da poluição em Widnes, Inglaterra.
Fonte: commons.wikimedia.org

Como se não fosse suficiente este grau de degradação, a cidade aumentava ainda mais a distância social entre os pobres e os ricos, agravando a exclusão social de uns, enquanto a concepção dos economistas liberais de classe média ditava que “os homens tinham a obrigação de aceitar os empregos que o mercado oferecesse, qualquer que fosse o lugar ou a remuneração” e, para se proteger do “infortúnio, da velhice e da doença”, deveria recorrer à poupança e ao seguro, fosse ele individual ou coletivo. Reconheciam que os “indigentes” não deveriam morrer de fome, mas não lhes era dado “mais que o mínimo absoluto”. (HOBSBAWM, 1968, p. 82).
A Lei dos Pobres, de 1834 – que acabava por estigmatizar ainda mais os “fracassos da sociedade” – os confinava a centros de trabalho “com características de penitenciária (...) a fim de castigar os pobres por sua indigência (...)” (HOBSBAWM, 1968, p. 83). A assistência, dependendo dos governantes ou dos esforços dos próprios trabalhadores, era de qualquer forma outra fonte de opressão; formou-se assim o sindicato como instituição de defesa dos trabalhadores.
No começo da década de 1840, em contrapartida, enquanto a classe média podia investir seus recursos em estradas de ferro, o consumo que pesava sobre os trabalhadores, operários de latifúndios e empresas comerciais – cujos salários eram, em geral, restritos à subsistência – era outro fator de transferência da renda nacional dos pobres para os ricos.
A partir deste período, o foco da industrialização deixaria de ser a indústria têxtil e tomaria um rumo diferente: a mineração do carvão, do ferro, a construção de estradas de ferro e também a substituição dos navios veleiros pela navegação a vapor. Para se ter uma ideia, no período de 1840-42, as exportações de carvão mal atingiam as 750 mil libras, enquanto as de ferro e aço chegavam aos 3 milhões. No período de 1857-59, ultrapassaram os 3 milhões de libras em carvão e mais de 13 milhões em ferro e aço. Impressionante também é a “mania ferroviária” que se alastrou, com a construção de 9650 km de estradas de ferro entre 1830 e 1850. Neste momento o ritmo da vida passava a ser ditado pelo ritmo da produção industrial e refletido nas listas de horários dos trens, símbolo da “rotina entrelaçadora” em âmbito nacional (HOBSBAWM, 1968, p. 101-102).
O aumento na produção e a disponibilidade de capital para investimento permitiu a produção intensa de bens de capital, transformando a Inglaterra na “oficina mecânica do mundo”, exportando máquinas e capital para outros países, como Estados Unidos e Alemanha. Com essa prática, curiosamente, a Inglaterra deixava gradativamente de ser o centro de monopólio industrial; a competição com as indústrias estrangeiras que surgiam ocasionou uma “Grande Depressão” entre 1873-1896, decorrente da saturação dos mercados e, como saída desse impasse, a conquista imperialista de áreas do mundo até então não atingidas pela industrialização.


PARA SABER MAIS

http://www.texva.com/holland/The%20Dutch%20Windmill.htm (história e funcionamento dos moinhos holandeses, em inglês)

REFERÊNCIAS

GEOGRAFIA Ilustrada Internacional. São Paulo: Abril Cultural, 1971-73.
HOBSBAWM, E. J. Da revolução industrial inglesa ao imperialismo, 5a. Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.

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