Evolução da concepção sobre a forma da Terra


Por: ALINE VEIGA e EWERTON PEREIRA LOPES DE LIMA


Há muito tempo o homem utiliza técnicas para representar e demarcar o local que habita. Essas técnicas inicialmente eram desenhos simples e primitivos, baseados na percepção que as pessoas tinham do entorno que habitavam, servindo como meios de marcação de distâncias e localização e, até mesmo, como uma forma de comunicação entre os povos.

Assim teve origem a cartografia, ciência responsável pela descrição da superfície terrestre. Hoje possuímos técnicas bem diferentes daquelas utilizadas nas primeiras descrições primitivas, contamos com grande avanço tecnológico, que nos permite utilizar satélites artificiais e programas computadorizados para a medição da superfície terrestre. 

Mas ao representar nosso planeta, será que todas as culturas tinham as mesmas idéias sobre qual seria a forma da Terra? Alguns registros de gravuras e pinturas rupestres nos mostram que não.



Figura 01: Representação babilônica em barro cozido. 
Fonte: www.cartografiaescolar.ufsc.br 


Os primeiros registros de representações da Terra são de povos que ocuparam a região da Mesopotâmia (hoje região do Oriente Médio, entre os rios Tigre e Eufrates). Nesta região, houve a ocupação por alguns povos nômades, que por vezes acabavam por se estabelecer. Entre estes, os principais foram os Sumérios, Babilônios e Assírios. Estas descrições tinham muitos elementos místicos, principalmente ligados a esfera celeste, e mostravam a Terra como um disco plano, sempre circundada por mares e oceanos.

Uma cultura com grande destaque para a cartografia foi a da civilização grega. Os estudos gregos se preocupavam com a verdadeira forma da Terra, chegando a admitir sua esfericidade – a esfera era a figura geométrica que para os gregos representava a perfeição. Porém também tinham influencia de mitologias, utilizando deuses e histórias para explicar a natureza do universo. Nestas concepções, a Terra era tida como a personificação de uma deusa, Gáia, que daria origem a todos os elementos com vida em nosso planeta.

Um dos primeiros pensadores gregos a buscar explicações mais baseadas em experimentações e observações foi Tales de Mileto (625 – 546 a.C), que buscava respostas na razão, acerca da origem e dos elementos que formavam o universo. Mas a descrição da Terra como esférica surgiria apenas algum tempo depois, com Pitágoras (570 – 496 a.C).

Sucedendo Pitágoras, porém com a mesma importância, ainda houve estudos de Aristóteles (384 – 322 a.C) e Eratóstenes (276 – 196 a.C), que também admitiam a esfera como a forma da Terra, e realizaram importantes estudos na busca da comprovação de suas hipóteses. Eratóstenes, por exemplo, calculou o diâmetro da Terra, e conseguiu um resultado bem aproximado ao resultado que conhecemos hoje.

Apesar de todos os avanços gregos, estes estudos acabam sendo esquecidos com o advento da civilização romana, que utilizou a cartografia para fins mais militares, buscando expansão e conquistas territoriais, sem grandes preocupações com a forma exata da Terra. Assim, a representação mais comum a esta época foi o Orbis Terrarum, que apresentava os domínios romanos, além de rotas, caminhos e a localização de cidades e povoados. Nesta concepção a Terra era representada como um disco plano, com Roma ocupando uma posição central.


Figura 02: Mapa romano: Orbis Terrarum. Fonte: www.onlinehome.us

O formato Orbis Terrarum prevaleceu também na Idade Média, porém com algumas modificações, influenciadas pela grande expansão do cristianismo ocorrida neste período. As respostas para questionamentos eram baseadas em verdades bíblicas, e as representações cartográficas, assim como no Império Romano, eram utilizadas para descrição e organização territorial.

Apenas quando algumas obras de pensadores gregos (principalmente Aristóteles e Ptolomeu) são redescobertas pela civilização árabe, é que se retoma o avanço científico na cartografia, e a Terra volta a ser pensada como esférica. 

Este período ficou conhecido como Renascimento (século XIV a meados do século XVII). Outros fatores que contribuíram para um maior desenvolvimento da cartografia foi o aperfeiçoamento das técnicas de navegação, que permitiram mais descobertas sobre partes do planeta; e a maior popularização dos mapas, que aos poucos passam a não pertencer somente àqueles que detinham grande poder.

Após o Renascimento, os próximos séculos são marcados por uma grande preocupação das nações em dominar e expandir territórios, principalmente as européias, em um período conhecido como Absolutismo (século XVII e XVIII). Para dominar e ter poder sobre um território é necessário conhecê-lo, deste modo os Estados passam a ampliar a descrição cartográfica, utilizando novas técnicas, o que irá gerar um grande avanço para a cartografia. Também neste período, estudos de Isaac Newton demonstraram que a Terra não seria uma esfera perfeita, havendo irregularidades em sua superfície. Este fato causou muitas mudanças no pensamento da época.
Já no fim do século XVIII, ocorre a Revolução Industrial, outro importante período para o avanço das ciências. As necessidades da época levaram a um maior aperfeiçoamento da cartografia, pois as representações e descrições necessitavam de uma maior precisão, o que ocorreu graças ao grande avanço tecnológico deste período. No período seguinte, são registrados novos avanços, agora em decorrência do uso da aerofotogrametria e o lançamento de satélites artificiais.
E após esses avanços, quais são as concepções que temos hoje sobre o formato do nosso planeta? Atualmente dispomos do uso de fotos aéreas e imagens de satélite, o que nos permitiu conceber o planeta Terra como um geóide - representação de uma esfera com irregularidades na superfície, que decorrem da distribuição desigual da massa do planeta sobre sua superfície.


 Figura 03: Geóide produzido através de imageamento do satélite GOCE, da Agência Espacial Européia – ESA.
Fonte: www.esa.int

Referências:

CARVALHO, M. S.; As imagens do mundo e os mapas. Disponível em: <http://www.uel.br/prograd/maquinacoes/art_19.html> Acesso em: Out/2014

INPE – Instituto Nacional de Pesquisa Espacial. Conceitos de Cartografia. Disponível em: <http://www.dsr.inpe.br/vcsr/files/Apres_Cartografia.pdf> Acesso em: Out/2014


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