E antes de Sócrates? II Anaximandro

Figura 1: Anaximandro no quadro Escola de Atenas,
pintado por Rafael.
Continuando nossa exposição sobre os filósofos anteriores a Sócrates - os Pré-Socráticos, volvemos agora nossa atenção a um famoso discípulo de Tales: Anaximandro, 610 a.C. – 547 a.C. Anaximandro partilhava da ideia de seu mestre, de que um elemento teria originado tudo entretanto, este elemento não seria a água como para Tales. Para o tenaz discípulo, deveria ser outro, uma substância não conhecida.

A-peiron. Assim denominava Anaximandro a matéria que deu origem ao Universo. Universo, aliás, que era eterno e infinito em sua concepção. E, se o produto era eterno e infinito, a origem deveria ser eterna e infinita. Assim, Anaximandro afirmava que o a-peiron deveria conter tais características, portanto deveria ser eterno e infinito em quantidade. 

O citado acima apenas exemplifica como seria absurdo, diante da concepção de Universo de Anaximandro, imaginar o a-peiron de outra forma que não ilimitado e eterno. Entretanto, a grande característica do a-peiron - e este foi o grande salto da filosofia de Anaximandro – era não possuir nenhuma característica determinada, até por isso tal matéria originária também foi chamada pelo filósofo de “o indeterminado”. Segundo o pensador grego, o originário de tudo deve estar acima do vir-a-ser, logo todo vir-a-ser não pode estar no a-peiron. Assim, Anaximandro contempla a eternidade e abraça o ilimitado não por serem características do Universo, mas por serem a ausência de determinação.

Ainda, segundo Aristóteles:

“Pois tudo ou é princípio ou procede de um princípio, mas do ilimitado não há princípio: se houvesse, seria seu limite. E ainda: sendo princípio, deve também ser não–engendrado e o indestrutível, porque o que foi gerado necessariamente tem fim e há término para toda destruição. Por isso, assim dizemos não tem princípio, mas parece ser princípio das demais coisas e a todas envolver e a todas governar, como afirmam os que não postulam outras causas além do ilimitado, como seria Espírito ou Amizade. E é isto que é o divino, pois é imortal e imperecível, como dizem Anaximandro e a maior parte dos físicos”.

Tudo tem origem no a-peiron. Certo, mas como explicar as transformações que seus olhos observavam? Como explicar a eternidade num mundo que surge e se desfaz? Surge e se desfaz, e surge e se desfaz, e surge... Ciclos! Essa era a resposta! Anaximandro conclui, portanto, que tudo teria surgido do a-peiron e também tudo se extinguiria no a-peiron eternamente. O a-peiron seria o início e fim de tudo através de ciclos. Desta forma, uma eterna quantidade de mundos veio antes do nosso e se dissolveram no infinito, bem como será com o nosso e com os que hão de surgir depois do nosso num contínuo eterno no Universo. 

Entretanto, qual seria a força que modifica o existente e o extingue? O próprio a-peiron. Desta forma, o a-peiron não seria apenas a matéria primordial e fim do Universo, mas também, o propulsor das transformações do existente, ou seja, o a-peiron é o inicio, o meio e o fim deste ciclo eterno.


Por Daniel Messias Linck


REFERÊNCIAS


REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia. São Paulo: Ed. Paulus, 1990.

ADOVANI, Umberto e CASTAGNOLA, Luís, História da Filosofia, Edições Melhoramentos, São Paulo, 10.ª edição, 1974.

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